quarta-feira, 31 de agosto de 2011

RESUMO: Capítulo 4 - Livro DIDÁTICA


O Processo de Ensino na Escola

O exercício do magistério se caracteriza pela atividade de ensino das matérias escolares. Há, portanto, uma relação recíproca e necessária entre a atividade do professor (ensino) e a atividade de estudo dos alunos (aprendizagem). A unidade ensino-aprendizagem se concretiza na interligação de dois momentos indissociáveis –transmissão/assimilação ativa de conhecimentos e habilidades, dentro de condições específicas de cada situação didática.
As Características do Processo de Ensino
A atividade de ensinar é vista, comumente, como transmissão de matéria aos alunos, realização de exercícios repetitivos, memorização de definições e fórmulas. Este é o tipo de ensino existente na maioria de nossas escolas, uma forma peculiar e empobrecida do que se costuma chamar de ensino tradicional:
  • O professor passa a matéria, o aluno recebe e reproduz mecanicamente o que observou;
  • É dada excessiva importância à matéria que está no livro, sem preocupação de torná-la mais significativa e mais viva para os alunos.
  • O ensino somente transmissivo não cuida de verificar se os alunos estão preparados para enfrentar matéria nova;
  • O trabalho docente fica restrito às paredes da sala de aula;
Devemos entender o processo de ensino como o conjunto de atividades organizadas do professor e dos alunos, visando alcançar determinados resultados, tendo como ponto de partida o nível atual de conhecimentos, experiências e de desenvolvimento mental dos alunos:
  • O ensino se caracteriza pelo desenvolvimento e transformação progressiva das capacidades intelectuais dos alunos em direção ao domínio dos conhecimentos e habilidades, e sua aplicação;
  • O processo de ensino visa alcançar determinados resultados em termos de domínio de conhecimentos, habilidades, hábitos, atitudes, convicções e de desenvolvimento das capacidades cognitivas dos alunos.
Os conteúdos do saber escolar são os conhecimentos sistematizados, selecionados das bases das ciências e dos modos de ação acumulados pela experiência social da humanidade e hábitos, vinculados aos conhecimentos, incluindo métodos e procedimentos de aprendizagem e de estudo. No que se refere as capacidades cognoscitivas são as energias mentais disponíveis nos indivíduos, ativadas e desenvolvidas no processo de ensino, em estreita relação com os conhecimentos. Uma vez que, sem o domínio dos conhecimentos não se desenvolvem as capacidades intelectuais, não sendo possível a assimilação de conhecimentos de forma sólida e duradoura.

Processo didáticos básicos: ensino e aprendizagem

Ensino e aprendizagem são duas facetas de um mesmo processo. O professor planeja, dirige e controla o processo de ensino, tendo em vista estimular e suscitar a atividade própria dos alunos para a aprendizagem.
 
A APRENDIZAGEM - Podemos distinguir a aprendizagem casual – quase sempre espontânea, surge naturalmente da interação entre as pessoas e com o ambiente em que vivem e a aprendizagem organizada – que tem por finalidade específica aprender determinados conhecimentos, habilidades, norma de convivência social. Isto significa que podemos aprender conhecimentos sistematizados (fatos, conceitos, princípios etc); habilidades e hábitos intelectuais e sensorimotores (observar um fato e extrair conclusões, dominar procedimentos para resolver exercícios etc) e atitudes e valores (senso crítico frente aos objetos de estudo e à realidade etc).
Processo de assimilação ativa - É um dos conceitos fundamentais da teoria da instrução e do ensino. Em síntese, temos nas situações didáticas fatores externos e internos, mutuamente relacionados.
Os níveis de aprendizagem – Os meios internos pelos quais o nosso organismo psicológico aprende são bastantes complexos. Destacando-se dois níveis de aprendizagem humana: nível reflexo e nível cognitivo.
Momentos interligados do processo de assimilação – a primeira atividade é a observação sensorial das coisas, propriedades, semelhanças e diferenças que as distinguem externamente. A percepção ativa para um nível mais elevado de compreensão implica a atividade mental. O processo se completa com as atividades práticas em várias modalidades de problemas e exercícios.
Características da aprendizagem escolar – A aprendizagem escolar é uma atividade planejada, intencional e dirigida, e não algo casual e espontâneo; o processo de assimilação de conhecimentos resulta da reflexão proporcionada pela percepção prático-sensorial e pelas ações mentais que caracterizam o pensamento; na aprendizagem escolar há influência de fatores afetivos e sociais; os conteúdos e as ações mentais que vão sendo formados dependem da organização lógica e psicológica das matérias de ensino; a aprendizagem escolar tem vínculo direto com o meio social que circunscreve não só as condições de vida das crianças, mas também a sua relação com a escola e o estudo, sua percepção e compreensão das matérias; a aprendizagem escolar se vincula também com a motivação dos alunos que indicam os objetivos que procuram; o trabalho docente é atividade que dá unidade ao binômio ensino-aprendizagem, pelo processo de transmissão-assimilação ativa dos conhecimentos.

O ENSINO - É um meio fundamental do progresso intelectual dos alunos. Entretanto, não há identidade entre o processo de assimilação e o processo de ensino, como se as etapas da assimilação fossem as mesmas etapas do ensino. Assim, é uma combinação adequada entre a condução do processo de ensino pelo professor e a assimilação ativa como atividade autônoma e independente do aluno. O ensino tem três funções inseparáveis: organizar os conteúdos para a sua transmissão; ajudar os alunos a conhecerem as suas possibilidades de aprender, indicar métodos de estudo e atividade que os levem a aprender de forma autônoma e independente; dirigir e controlar a atividade docente para os objetivos da aprendizagem.
A UNIDADE ENTRE ENSINO E APRENDIZAGEM – Podemos sintetizar dizendo que a relação entre o ensino e aprendizagem não é mecânica, não é uma simples transmissão do professor que ensina para um aluno que aprende. A unidade entre ensino e aprendizagem fica comprometida que o ensino se caracteriza pela memorização, por outro lado, também se quebra a unidade quando os alunos são deixados sozinhos, com o pretexto de que o professor somente deve facilitar a aprendizagem e não ensinar.
Estrutura, componentes e dinâmica do processo de ensino
O processo didático se explicita pela ação recíproca de três componentes – os conteúdos, o ensino e a aprendizagem. Os conteúdos de ensino compreendem as matérias nas quais são sistematizados os conhecimentos, formando a base para a concretização de objetivos. O processo de ensino é impulsionado por fatores ou condições específicas já existentes ou que cabe ao professor criar, a fim de atingir os objetivos escolares, isto é, o domínio pelos alunos de conhecimentos, habilidades e hábitos e o desenvolvimento de suas capacidades cognoscitivas. A contribuição mais importa da Didática é precisamente ajudar a resolver a contradição entre o ensino e a aprendizagem, a detectar as dificuldades enfrentadas pelos alunos na assimilação ativa dos conteúdos e a encontrar os procedimentos para que eles próprios superem tais dificuldades e progridam no desenvolvimento intelectual. O essencial do processo didático é coordenar o movimento de vaivém entre o trabalho conduzido pelo professor e a percepção e o raciocínio dos alunos frente a esse trabalho.
A estruturação do trabalho docente
A metodologia do trabalho docente inclui, pelo menos, os seguintes elementos: os movimentos (ou passos) do processo de ensino no decorrer de uma aula ou unidade didática; os métodos, formas e procedimentos de docência e aprendizagem; os materiais didáticos e as técnicas de ensino; a organização da situação de ensino. Podemos indicar cinco momentos da metodologia do ensino na aula, articulados entre si: Orientação inicial dos objetivos de ensino e aprendizagem; transmissão/assimilação da matéria nova; consolidação e aprimoramento dos conhecimentos, habilidades e hábitos; aplicação de conhecimentos, habilidades e hábitos; verificação e avaliação dos conhecimentos e habilidades.
O caráter educativo do processo de ensino e o ensino crítico
O processo de ensino, ao mesmo tempo que realiza as tarefas da instrução de crianças e jovens, é um processo de educação. O caráter educativo do ensino está relacionado com os objetivos do ensino crítico. É claro que o processo didático se refere ao ensino das matérias; mas, justamente por ser ensino, a ele se sobrepõem objetivos e tarefas mais amplos determinados social e pedagogicamente. O ensino crítico é engendrado no processo de ensino, que se desdobra em fases didáticas coordenadas entre si que vão do conhecimento dos conceitos científicos ao exercício do pensamento crítico, no decurso das quais se formam processos mentais, desenvolve-se a imaginação, formam-se atitudes e disciplina intelectual. Na medida em que os conteúdos se articulam ao desenvolvimento de capacidades e habilidades mentais, por isso mesmo podem ser questionados, reelaborados, confrontados com a realidade física e social, em função de valores e critérios de julgamento em que se acredita.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

RESUMO: Capítulo 3 - Livro DIDÁTICA

Capítulo 3 – Didática: Teoria da Instrução e do Ensino. 
A Didática com os fundamentos educacionais proporcionados pela teoria pedagógica, explicita o seu objeto de estudo e seus elementos constitutivos para, em seguida, delinear alguns traços do desenvolvimento histórico dessa disciplina.
Didática como atividade pedagógica escolar
A pedagogia investiga a natureza das finalidades da educação como processo social, no seio de uma determinada sociedade, bem como as metodologias apropriadas para a formação dos indivíduos, tendo em vista o seu desenvolvimento humano para tarefas na vida em sociedade. Portanto, é sempre uma concepção da direção do processo educativo subordinada a uma concepção político-social. Sendo a educação escolar uma atividade social que orientando para finalidades sociais e políticas, cria um conjunto de condições metodológicas e organizativas para viabilização do âmbito escolar.
            A pedagogia estuda o processo de ensino através dos seus componentes: conteúdos escolares, o ensino e aprendizagem e a Didática investiga as condições e formas que vigoram no ensino e, ao mesmo tempo, os fatores reais (sociais, políticos, culturais, psicossociais) condicionantes das relações entre a docência e a aprendizagem. O processo didático de transmissão/assimilação de conhecimentos e habilidades tem como culminância o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos alunos, de modo que assimilem ativa e independentemente os conhecimentos sistematizados.
            A instrução se refere ao processo e ao resultado da assimilação sólida de conhecimentos sistematizados e ao desenvolvimento de capacidades cognitivas. O ensino consiste no planejamento, organização, direção e avaliação da atividade Didática concretizando as tarefas da instrução. Tanto a instrução como o ensino se modificam em decorrência da sua necessária ligação com o desenvolvimento da sociedade e com as condições reais em que ocorre o trabalho docente. Nessa ligação é que a Didática se fundamenta para formular diretrizes orientadoras do processo de ensino.
            O currículo expressa os conteúdos da instrução, nas matérias de cada grau do processo de ensino. A metodologia compreende o estudo dos métodos, e o conjunto dos procedimentos de investigação das diferentes ciências quanto aos seus fundamentos e validade, distinguindo-se das técnicas que são a aplicação específica dos métodos, sendo geral ou específica. Técnicas,  recursos ou meios de ensino são complementados à metodologia, colocados à disposição do professor para o enriquecimento do processo de ensino.   Atualmente,  a expressão tecnologia educacional  adquiriu um sentido bem mais amplo, englobando técnicas de ensino diversificadas (informática, meios de comunicação) individual e em grupo.
            A Didática tem muitos pontos em comum com as metodologias específicas de ensino, os objetivos sócio-políticos e pedagógicos da educação escolar, os conteúdos da escola, os princípios didáticos, os métodos de ensino e de aprendizagem, as formas organizativas do ensino, o uso e aplicação de técnicas e recursos, o controle e a avaliação da aprendizagem.
Objeto de estudo: o processo de ensino.
Inclui os conteúdos dos programas e dos livros didáticos, os métodos e formas organizativas do ensino, as atividades do professor e dos alunos  e as diretrizes que regulam e orientam esse processo. O processo de ensino como uma seqüência de atividades do professor e dos alunos, tendo em vista a assimilação de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, através dos quais os alunos aprimoram capacidades cognitivas. A finalidade do processo de ensino é proporcionar  aos alunos os meios para que assimilem ativamente os conhecimentos.  Ensinar e aprender são duas facetas do mesmo processo, e que se realizam em torno das matérias de ensino, sob a direção do professor.
Os componentes do processo didático
O ensino é uma atividade complexa que envolve tanto condições externas como condições internas das situações Didáticas. Cada situação Didática, porém, vincula-se a determinantes econômico-sociais, sócio-culturais, objetivos e normas estabelecidas conforme interesses da sociedade e seus grupo, e que afetam as decisões Didáticas. O processo didático está centrado na relação fundamental entre o ensino e a aprendizagem, orientado para a confrontação ativa do aluno com matéria sob a mediação do professor.
O processo didático desenvolve-se mediante a ação recíproca dos componentes fundamentais do ensino.  Os objetivos da educação e da instrução, os conteúdos, o ensino, a aprendizagem, os métodos, as formas e meios de organização das condições da situação Didática, a avaliação.
Desenvolvimento histórico da Didática e tendências pedagógicas.
A história da Didática está ligada ao aparecimento do ensino, no decorrer do desenvolvimento da sociedade, da produção e das ciências, como atividade planejada e intencional dedicada à instrução.
Na antiguidade Clássica e no período medieval também se desenvolvem formas de ação pedagógica, em escolas, mosteiros, igrejas, universidades. A formação da teoria Didática para investigar as ligações entre ensino e aprendizagem e suas leis ocorre no século XVII, quando José Amós Comênio escreve a primeira obra clássica sobre Didática, a Didacta Magma.
 Alguns os princípios assentavam-se que a finalidade da educação é conduzir à felicidade eterna com Deus, sendo a educação um direito natural de todos. Por ser parte da natureza, o homem deve ser educado de acordo com o seu desenvolvimento natural, de acordo com as características de idade e capacidade para o conhecimento. Os conhecimentos devem ser adquiridos a partir da observação das coisas e dos fenômenos, utilizando e desenvolvendo sistematicamente os órgãos dos sentidos.
Jean Jacques Rousseau propôs uma concepção nova de ensino, baseada nas necessidades e interesses imediatos da criança, os quais as idéias mais importantes foram a preparação da criança para a vida futura que devia basear-se no estudo das coisas que correspondiam as suas necessidades e interesses atuais e a educação sendo um processo natural, fundamentada no desenvolvimento interno do aluno.
Para Henrique Pestalozzi atribuía grande importância ao método intuitivo, levanto os alunos a desenvolverem o senso de observação, análise dos objetos e fenômenos da natureza e a capacidade da linguagem, através da qual se expressa em palavras o resultado das observações.
Segundo Johann Friedrich Herbart inspirador da pedagogia conservadora junto com uma formulação teórica dos fins da educação e da pedagogia como ciência, desenvolveu uma análise do processo psicológico-didático de aquisição de conhecimentos, sob a direção do professor.
Conforme Herbart o fim da educação e a moralidade, atingida através da instrução educativa. O professor é um arquiteto da mente, cujo método do ensino consiste em provocar a acumulação de idéias na mente da criança, estabelecendo, assim, quatros passos didáticos que deveriam ser seguidos – clareza, associação, sistematização e métodos.
As idéias pedagógicas de Comênio, Rousseau, Pestalozzi e Herbart entre outros formaram as bases do pensamento pedagógico europeu, demarcando as concepções pedagógicas que hoje são conhecidas como Pedagogia Tradicional e Pedagogia Renovada. Uma das correntes da Pedagogia Renovada que não tem vínculo direto com o movimento da Escola Nova, mas que teve repercussões na pedagogia brasileira, é chamada Pedagogia Cultural.
O estudo teórico da Pedagogia no Brasil passa por um reavivamento, principalmente a partir das investigações sobre questões educativas baseadas nas contribuições do materialismo histórico e dialético.
Tendência pedagógica do Brasil e a Didática
Nos últimos anos, diversos estudos têm sido dedicados à história da Didática no Brasil, suas relações com as tendências pedagógicas e à investigação do seu campo dos conhecimentos. Na Pedagogia Tradicional, a Didática é uma disciplina normativa, um conjunto de princípios e regras que regulam o ensino. A atividade de ensinar é centrada no professor que expõe e interpreta a matéria. A Didática da Escola Nova ou Didática ativa é entendida como direção da aprendizagem e da grande importância aos métodos e técnicas como o trabalho de grupo, atividades  cooperativas, estudo individual, pesquisas, projetos, experimentações etc. Valorizando mais o processo aprendizagem e os meios que possibilitam o desenvolvimento das capacidades e habilidades intelectuais dos alunos.
A pedagogia Libertadora não tem uma proposta explícita de Didática. A atividade escolar é centrada na discussão de temas sociais e políticos. Essa pedagogia tem sido empregada com muito êxito em vários setores dos movimentos sociais, como sindicatos, associações de bairro, comunidades religiosas.
Para Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos a escola pública cumpre a sua função social e política, assegurando a difusão dos conhecimentos sistematizados a todos, como condição para a efetiva participação do povo nas lutas sociais, cujo objeto é o processo de ensino nas suas relações e ligações com a aprendizagem. As ações de ensinar e aprender formam uma unidade, mas cada um tem a sua especificidade.
A Didática e as Tarefas do Professor
A Didática é a disciplina que estuda o processo de ensino tomado em seu conjunto. Os objetivos educativos e os objetivos de ensino, os conteúdos científicos, os métodos e as formas de organização do ensino, as condições e meios que mobilizam o aluno para o estudo ativo e seu desenvolvimento intelectual. Esses objetivos se ligam uns aos outros, pois o processo de ensino é ao mesmo tempo um processo de educação.
A dimensão educativa do ensino implica que os resultados da assimilação de conhecimentos e habilidades se transformem em princípios e modos de agir frente à realidade. A Didática oferece uma contribuição indispensável à formação dos professores, sintetizando no seu conteúdo a contribuição de conhecimento de outras disciplinas que convergem para o esclarecimento dos fatores condicionantes do processo de instrução e ensino, intimamente vinculado com a educação e, ao mesmo tempo, provendo os conhecimentos específicos necessários para o exercício da tarefas docentes.
Livro: DIDÁTICA (JOSÉ CARLO LIBÂNEO, CORTEZ EDITORA, SÃO PAULO – SP, 1993

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Resumo: Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários à Prática Educativa.


Primeiras Palavras – abordando sobre a ética na questão da formação docente.
A ética de que falo é a que se sabe afrontada na manifestação discriminatória de raça, gênero, de classe.  É por esta ética inseparável da prática educativa, não importa se trabalhamos com crianças, jovens ou adultos, que devemos lutar, por está absolutamente convencido da natureza da ética nesta prática especificamente humana, enquanto algo absolutamente indispensável à convivência entre indivíduos. Produto da determinação genética ou cultural ou de classe significa reconhecer que somos seres condicionados, mas não determinados. É nesse sentido que resisto em que formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas...
Capítulo 1 – Não há docência sem discência.
            Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção. A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina a aprender.
            Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar. Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente fundante de aprender. É um processo que pode deflagrar no aprendiz uma curiosidade crescente, que pode torná-lo mais e mais criador.
            O educador democrático não pode negar-se o dever de reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão. Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos. É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo, o seu caráter formador.
            A grande tarefa do sujeito que pensar certo não é transferir, depositar, oferecer, doar ao outro, tornando como paciente de seu pensar, a intelegibilidade das coisas, dos fatos, dos conceitos. Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em que os educandos em suas relações uns com outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se.
Capítulo 2 – Ensinar não é transferir conhecimento.
            Por mais que me desagrade uma pessoa não posso menosprezá-la com um discurso em que, cheio de mim mesmo, decreto sua incompetência absoluta. A consciência do inacabamento entre mulheres e homens, nos fez seres responsáveis, daí a eticidade de nossa presença no mundo. O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. A vigilância do bom senso tem uma importância enorme na avaliação a todo instante, sabendo do respeito à autonomia, à dignidade e à identidade do educando.
            A nossa capacidade de aprender, de que decorre a de ensinar, sugere ou, mais do que isso, implica a nossa habilidade de aprender a substantividade do objeto aprendido. Construindo, reconstruindo, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito. Havendo uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança.
            Mudar é difícil, mas é possível, que vamos programar nossa ação político-pedagógica, não importa se o projeto com o qual nos comprometemos é de alfabetização de adultos ou de crianças, se de ação sanitária, se de evangelização, se de formação de mão-de-obra técnica. Como educador é necessário ir lendo cada vez melhor a leitura do mundo que os grupos populares com quem trabalho fazem de seu contexto imediato e do maior de que o seu é parte.
            O bom clima pedagógico-democrático é o em que o educando vai aprendendo à custa de sua prática mesma que sua curiosidade como sua liberdade deve estar sujeita a limites, mas em permanecer em exercício. Como professor devo saber que sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino. O exercício da curiosidade convoca à imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de comparar, na busca da perfilizaçãodo objeto ou do achado de sua razão de ser.
Capítulo 3 – Ensinar é uma especificidade humana.
         Uma das qualidades essenciais que a autoridade docente democrática deve revelar em suas relações com as liberdades dos alunos é a segurança em si mesma. A incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor. No fundo, o essencial nas relações entre educador e educando, entre autoridade e liberdades, é a reinvenção do ser humano no aprendizado de sua autonomia.
            Devendo revelar aos alunos a capacidade do educador de analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper, mesmo correndo riscos. Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que a minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Uma escolha entre isto e aquilo, tendo uma coerência entre o que digo, o que escrevo e o que faço. É decidindo que se aprende a decidir. Ninguém é autônomo primeiro para depois decidir. A autonomia vai se construindo na experiência de várias, inúmeras decisões, que vão sendo tomadas. Professor sim, tia não, na necessidade de criarmos, em nossa prática docente, entre outras, a virtude da coerência.
            O educador que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao aluno, em fala com ele. O primeiro sinal de que o sujeito que fala sabe escutar é demonstração de sua capacidade de controlar não só a necessidade de dizer a sua palavra, que é um direito, mas também o gosto pessoal, profundamente respeitável, de expressá-la. A verdadeira escuta não diminui em nada a capacidade de exercer o direito de discordar, de opor e de se posicionar. Aceitar e respeitar a diferença é uma das virtudes sem o que a escuta não se pode dar.
            O professor autoritário, que recusa escutar os alunos, se fecha a aventura criadora. Testemunhar a abertura aos outros, a disponibilidade curiosa à vida, a seus desafios, são saberes necessários à prática educativa. A formação dos professores e das professoras devia insistir na constituição deste saber necessário e que me faz certo desta coisa óbvia, que é a importância inegável que tem sobre nós o contorno ecológico, social e econômico em que vivemos. Pois se não posso, de um lado, estimular os sonhos impossíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar.

FREIRE, PAULO. Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Ed. Paz e Terra S/A, 2000 – 28 edições.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

RESUMO DO LIVRO - DIDÁTICA

PRÁTICA EDUCATIVA, PEDAGOGIA E DIDÁTICA – cap. 01
A ciência que investiga a teoria e a prática da educação nos seus vínculos com a prática social global é a PEDAGOGIA, sendo a DIDÁTICA uma disciplina pedagógica com finalidades educacionais, estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino.
PRÁTICA EDUCATIVA E SOCIEDADE
A prática educativa é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades. Em sentido amplo, a educação compreende os processos formativos que ocorrem no meio social, pelos simples fatos dos indivíduos existirem socialmente (religião, costumes, convivência humana). Em sentido estrito, ocorrendo em instituições específicas (escolares ou não) sem separar-se daqueles processos formativos gerais.
As influências educativas podem ser ou não-intencionais e intencionais. A educação não-intencional refere-se às influencias do contexto social e do meio ambiente sobre os indivíduos, ou seja, a educação informal (experiências, idéias, valores, prática) que não estão ligadas especificamente a instituição. A educação intencional é o caso da educação escolar e extra-escolar, pois a consciência por parte do educador quanto aos objetivos e tarefas que deve cumprir (pai, professor ou outros adultos em geral).
Podemos ainda falar de educação não-formal atividades educativas fora do sistema convencional e da educação formal realizadas na escola e em outras instituições educacionais (igreja, sindicatos, partidos, empresas, etc.). O processo educativo é sempre contextualizado social e politicamente;  há uma subordinação à sociedade que determina objetivos, condições e meios de ação.
A educação é um fenômeno e um processo social, porque é parte integrante das relações sociais, econômica, políticas e culturais de uma determinada sociedade. Classes e grupos sociais  com interesses distintos e antagônicos, repercute tanto na organização econômica e política quanto na pratica educativa. A educação socialmente determinada significa que a prática educativa: objetivos, conteúdos de ensino e o trabalho docente estão determinados por fins e exigências sociais, políticas e ideológicas.
O papel da educação está implicado nas formas que as relações sociais vão assumindo pela ação prática concreta dos homens. No trabalho docente, sendo manifestação da prática educativa estão presentes em interesses de ordem sociais, políticas, culturais que precisam ser compreendidas pelos professores.  Tal como a educação também o ensino é determinado socialmente.
EDUCAÇÃO, INSTRUÇÃO E ENSINO
         Educação é um conceito amplo que se refere ao processo de desenvolvimento unilateral da personalidade, envolvendo a formação de qualidades humanas, tendo em vista a orientação da atividade humana na sua relação com o meio social, num determinado contexto de relações sociais. Nesse sentido a educação é uma instituição social e um processo. A instrução se refere a formação intelectual e o desenvolvimento das capacidades cognitivas e o ensino corresponde a ações, meios e condições para a instrução. Havendo uma unidade entre a educação e instrução.
EDUCAÇÃO ESCOLAR, PEDAGOCIA E DIDÁTICA
            Pela educação escolar, democratizam-se os conhecimentos, forma-se a capacidade de pensar criticamente os problemas e desafios postos pela realidade social. Na pedagogia determina-se o rumo desse processo em sua finalidade e meios de ação. Didaticamente é investigado os fundamentos, condições e modos de realização da instrução e do ensino. A própria sala de aula é um ambiente social que forma, junto com a escola com um todo, o ambiente global da atividade docente para cumprir os objetivos de ensino.
A DIDÁTICA E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO PROFESSOR
Abrange duas dimensões a formação teórico-científica e técnico-prática. Uma vez que a formação do professor implica pois em uma contínua interpretação entre a teoria e a prática, permitindo maior segurança profissional.
        
DIDÁTICA E DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO – cap. 02
A Preparação das crianças e jovens para a participação ativa na vida social é o objetivo da escola pública. A instrução proporciona o domínio dos conhecimentos sistematizados e promove o desenvolvimento das capacidades intelectuais dos alunos. A didática e as metodologias específicas das disciplinas, apoiando-se em conhecimentos pedagógicos e científico-técnicos são disciplinas que orientam a ação docente partindo das situações concretas em se realiza o ensino.
A escolarização e as lutas democráticas é um dos requisitos fundamentais para o processo de democratização. Ao adquirirem um entendimento  crítico da realidade através do estudo das matérias escolares e do domínio de métodos pelos quais desenvolvem suas capacidades cognitivas e formam habilidades para elaborar independentes os conhecimentos, podendo os alunos expressarem de forma elaborada os conhecimentos que correspondem aos interesses majoritários da sociedade e inserir-se ativamente nas lutas sociais.
Para efetivação dos vínculos entre a escolarização e as lutas pela democratização da sociedade é necessário a atuação de frentes políticas e pedagógicas. A escola pública deve ser unitária pois deve garantir uma base comum de conhecimento expressos num plano de estudos básicos de âmbito nacional, garantindo um padrão de qualidade do ensino para toda a população. A escola pública deve ser democrática no sentido de que nela devem vigorar mecanismos democráticos de gestão interna envolvendo a participação conjunta da direção, dos professores e os pais.
A escola pública deve ser gratuita porque é um direito essencial dos indivíduos para se constituírem como cidadãos. Em síntese, a escola é um meio insubstituível de contribuição para as lutas democráticas, na medida em que possibilita as classes populares, ao terem acesso ao saber sistematizado e as condições do aperfeiçoamento das potencialidades intelectuais, participarem ativamente do processo político sindical e cultural.
O FRACASSO ESCOLAR PRECISA SER DERROTADO
É necessário rever a concepção da qualidade de ensino. Isso significa que programas, conteúdos, métodos, formas de organização somente adquirem qualidade quando são compatibilizados com as condições reais dos alunos.  Tais condições influem na percepção e assimilação dos conteúdos das matérias, na linguagem, motivações para o estudo, aspirações para o futuro e nas relações com o professor. O ensino contribui para superação do fracasso escolar se os objetivos e os conteúdos são acessíveis, socialmente significativos e assumidos pelos alunos.
A escola e o professor têm sua parte a cumprir na luta e o fracasso escolar. E, sem dúvida, o ponto vulnerável a ser atacado é a alfabetização, pois é um meio indispensável para a expressão do pensamento da assimilação consciente e ativa de conhecimentos e habilidades, meio de conquista da liberdade intelectual e política.
A TAREFA DA ESCOLA PÚBLICA DEMOCRÁTICA
É responsabilidade, também do ensino do 1 º grau, colocar os alunos em condições de continuarem estudando e aprendendo durante toda a vida e inculcar valores e convicções democráticos, tais como respeito pelos companheiros, solidariedades, capacidade de participação em atividades coletivas, crenças nas possibilidades de transformação da sociedade, coerência entre palavras e ações e o sentimento de coletividade onde todos se preocupam com o bem de cada um e cada um se preocupa com o bem de todos.
A escola pela qual devemos lutar hoje visa o desenvolvimento científico e cultural do povo, preparando as crianças e jovens para vida, o trabalho e para cidadania, através da educação geral, intelectual e profissional. A democratização do ensino se sustenta nos princípios da igualdade e da diversidade.
O COMPROMISSO SOCIAL E ÉTICO DOS PROFESSORES
A característica mais importante da atividade profissional do professor é a mediação entre o aluno e a sociedade, entre as condições de origem do aluno e sua destinação social na sociedade, papel que cumpre provendo as condições e os meios que assegurem o encontro do aluno com as matérias do estudante.
Quando o professor se posiciona, consciente e explicitamente, ao lado dos interesses da população. Ele insere sua atividade profissional na luta por melhores condições de vida e de trabalho e a ação conjunta pela transformação das condições gerais, econômicas, políticas e culturais da sociedade.
Livro: DIDÁTICA (JOSÉ CARLO LIBÂNEO, CORTEZ EDITORA, SÃO PAULO – SP, 1993)